quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

É bom ver filmes relacionados a Música



Em termos de música, algo que faz muita diferença é saber a história da canção. As vezes a melodia tem uma história diferente da letras, outras vezes caminham juntas. Em diversos momentos, a melodia é feita para a voz de alguém e, assim, melodia, letra e voz possuem sua própria trajetória. Quando vejo essa enxurrada de filmes documentais sobre canções, falando dos Titãs, dos Secos e Molhados, Festivais e por aí vai, a cada vez que saio do cinema ou dos momentos de assistir, fico maravilhado com a série de histórias que acompanham uma simples canção. Quando ouço as músicas novamente, é como se fossem novas melodias, novas letras e uma nova voz perpassando aqueles poucos minutos que sempre me tocaram. Vale muito procurar saber informações sobre músicas importantes para a nossa vida ou apenas gostosas de serem ouvidas. Recomendo que se procure faltar o mínimo possível essas salas de cinema sobre cantores, cantantes ou épocas musicais, pois as melodias, letras e vozes ficam ainda mais enriquecidas pela história que contextualiza tais momentos.

Jair Rodrigues hoje e sempre



Estive esse ano no show do Jair Rodrigues aqui em Curitiba, parte da nossa virada cultural. O que me impressionou é, em primeiro lugar, que o cara continua com um vozerão danado que inicialmente já contagia o público; mas sem dúvida o que mais chama a atenção é a energia do cantor que lembra aquela animação de palco que ele tinha, de quando vemos em documentários, ainda naqueles velhos tempos. É animado, simpático, enérgico. Grande Jair Rodrigues, quando canta “Prepare seu coração”, é como se trouxesse os grandes tempos da MPB de volta a nossos ouvidos.

Cantoras dos 60s e 70s: voz acima da beleza



É interessante que durante as décadas de 1960 e 1970 o regime militar ficava antenado com relação a sensualidade das cantoras que interpretavam as canções nos festivais de música televisionados. Interessante porque se lembrarmos das principais cantoras daquele período, aparentemente não há muito com o que se preocupar. Os dois grandes nomes femininos de nossa música àquela época – e provavelmente até hoje – eram Nara Leão e Elis Regina. Nenhuma das duas havia muito o que ser explorado em termos de beleza e sensualidade. Sem dúvida a beleza usual e mediana delas e de outras de suas companheiras como Nana Caymmi, demonstram que naqueles tempos o que interessava mesmo em uma cantora era a voz feminina e poderosa, capaz de ficar bonita tanto ao vivo em um palco de teatro quanto transmitida pela televisão. Essas foram sem dúvida as nossas maiores cantoras daquele momento até os dias atuais.

Nara Leão e o poder da voz em 67



No filme “Uma Noite em 67” – que trata sobre a final do Festival da Canção Popular da Record de 1967 – tem uma parte nos “Extras” que se refera à canção “A Estrada e o Violeiro”, interpretada por Nara Leão e Sidney Miller. A pergunta do documentarista sobre essa música é algo do tipo “como é possível uma canção tão longa se classificar para as finais do festivai?”, ao que os arguídos – ninguém menos que Solano Ribeiro, Zuza Homem e Ferreira Goulart – respondem sem pestanejar que o poder da melodia no festival se deveu à Nara Leão. E efetivamente, ouvindo e vendo as imagens, é possível perceber o quanto a voz dela era superior ao de seu parceiro de música e, provavelmente, de quanto sua interpretação ressoa belissimamente como talvez nenhuma outra foi capaz dada as condições técnicas de equipamentos projetados para um público grande e ao mesmo tempo para a televisão. Sua voz soa linda, limpa, suave e poderosa. Posso dizer que passei a entender o que se fala de Nara Leão definitivamente depois de ver estas imagens, em que uma voz tão imponente sai de uma mulher tão miúda. Impressionante.

domingo, 20 de novembro de 2011

O céu de Curitiba e a porra de um helicóptero...


Quando o Win Wenders esteve aqui no Brasil ainda este ano (ou foi no final do ano passado?), lembro-me de ele ter respondido, quando perguntaram sobre o Brasil, que ficou assustado com o tanto de helicópteros que havia no céu de São Paulo. Afirmou que acordava assustado pensando que estava em uma guerra.

Achei aquilo um exagero, coisa de europeu, etc e tal. Mas meu chapéu de couro!!! Hoje, no céu de Curitiba, tinha um (apenas um) helicóptero rodando no centro da cidade em plena manha de domingo, que deveria ser tipo o que canta o Tim Maia, "o sol amanhecer e ver a vida acontecendo".

Nada disso, impossível dormir. Foram voltas e voltas até que se tornava impossível imaginar alguém dormindo em toda a cidade. Acordei pedindo desculpas ao Win Wenders e afirmando que ele tinha razão. Se um helicóptero fazia todo aquele barulho, mais de um é guerra mesmo. Pelo que vemos nos filmes de ficção científica, o futuro vai mais ou menos por aí. Só que antes de ser ordenado e silencioso, o céu será um caos de guerra... aliás, ainda hoje os carros não são silenciosos, porque o céu um dia será.

Só me pergunto se o sujeito que pilotava aquele helicóptero, seja um profissional da mídia ou um empresário endinheirado, tem uma mente tão utilitária que nem imagina que tem gente dormindo no domingo de manhã. Se eu tivesse uma bazuca, agora estava preso por atentado terrorista, porque eu teria derrubado a porra daquele helicóptero.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Gil de Janeiro Fevereiro e Março

Eu cresci ouvindo discos de qualidade, como Arca de Noé e Saltimbancos. Quando tomei minha própria consciência, parti pro rock, em especial Beatles e Raul Seixas. Nos 80s curti tudo que o Brasil ofereceu de melhor, como Titãs, Legião, Engenheiros, Plebe Rude e etc. Mas como o passado sempre volta, lá pelos 13 anos a MPB começou a dividir espaço com as guitarras mais distorcidas. Oquei, nada disso é verdadeiramente o assunto aqui.

Mesmo abrindo meus ouvidos para a MPB, houve uma imensa resistência a gostar de Gilberto Gil. Aqueles enfeites vocálicos agudos me irritavam na infância e continuaram me incomodando na adolescência. Mas quando o remédio é bom, cura qualquer doença. Cada vez que escuto o baiano de Itauçu fico mais e mais impressionado. Quando alio a sua biografia e o seu conhecimento de música, arranjos e instrumentos musicais, ele fica quase imbatível.

Um gênio filho de classe média alta em pleno sertão baiano. Penso como aquele sertão era uma influência imensa e bonita para aquele músico ainda menino. Quantos sons de vaquejadas ouvira Gilberto Gil. Quantos pé-de-serra ouviu na beira de uma fogueira, com a sertanejada dançando. E que beleza deve ter sido para ele ouvir tanto Luiz Gonzaga que acabou sendo, da tal MPB, o melhor cantador de forró entre todos... claro que atrás do Mestre Lua, porque aí não tem jeito.

Certamente a genialidade de Gil estava desperta no momento em que ele estava naquele sertão, de luar sem igual. É notório o quanto ele trouxe esse chão seco para as suas canções. Impressionante o quanto a sua mente estava ligada, aberta e elevada sensível e intelectualmente para absolver tantas influências de um lugar tão belo e trágico.

Gilberto Gil cresceu, fez faculdade e virou Ministro. Entre uma coisa e outra se formou em acordeon, de tanto que amava Luiz Gonzaga. Depois aprendeu violão como poucos, ensinou pro Caetano Veloso que nunca chegou sequer perto (como chegar?) e com muita humildade, sem alardes, compôs belíssimas anedotas como Domingo no Parque, Procissão, A Novidade. Melodia como Um Trem Para as Estrelas, Aquele Abraço... e o melhor: não abre a boca para falar bobagens, como faz seu amigo Caê. Por tudo o que faz e fez, deveria ser bem mais lembrado.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Carlos Drummond sobre "A Banda", de Chico

Em 1966, a música "A Banda", de Chico Buarque, foi um enorme sucesso. Seu ritmo de marcha de samba aliado a uma bela melodia, encantou o país em 1966 após o Festival de Música Popular Brasileira. Mas aqui, no caso, o tema é a crônica que Carlos Drummond de Andrade escreveu sobre essa canção pouco depois da apresentação no festival televisivo, publicada no "Correio da Manhã", e que está transcrito abaixo.

"O jeito no momento é ver a banda passar, cantando coisa deamor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.

A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mais subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e a banda vêm trazendo, Chico Buarque de Holanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, a falta de ar.

A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a idéia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto de Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.

Meu partido está tomado. Não da Arena nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.

Se a banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingativos e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira.

Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floreçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrangem terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longíngua, chamando o velho fraco, a moça feia, o homem sério, o faroleiro... todos os que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicar a alma da gente".

Se o Brasil fosse o Mundo do Rock


Como eu já disse, quase toda comparação é meio burra, principalmente em se tratando de música, algo tão popular e ao gosto de muitos. Mas vou fazer uma brincadeira aqui nesse blog, já que ninguém lê esse troço mesmo. Se a história do rock brasileiro fosse a história do rock mundial, quem seria quem no Brasil??? É algo simples e pretendo pegar apenas alguns poucos nomes, pouquíssimos, embora pudesse ir blogs a fio nessa brincadeira. Por exemplo, disse no post abaixo que a dupla Lennon-McCartney está, no Brasil, para a dupla Gil e Caetano. Quem mais poderia entrar nessa desordenada comparação?

Mas se os baianos seriam a dupla britânica, o mais próximo que teríamos de um Beatles no Brasil, seria Os Mutantes. Esse mais próximo é algo beeeeeem distante, pois a revolução musical que Beatles causou no mundo Os Mutantes não causaram nem perto no Brasil, mas algo permaneceu e ainda pode ser reconhecido num futuro próximo... ou distante. De qualquer forma, é a principal banda musical da história do país, só tendo algo comparável décadas depois, nos anos de 1980, ainda que... bem, é melhor parar por aqui para não viajar ainda mais.

Não segue uma ordem cronológica, mas poderíamos colocar Raul Seixas como o nosso Elvis Presley brasileiro. Indícios para isso não faltam, principalmente porque, assim como afirmei que a dupla de baianos era profundamente influenciada por Beatles, aqui temos o Raulzito, totalmente mergulhado no mundo da música em função de sua paixão por Elvis. Let me Sing, Let Me Sing é a prova dessa mistura, também baiana, de rock com baião.

Muitos poderiam comparar Elvis com Roberto Carlos em função dos filmes feitos por Roberto, ao grande estilo de músico galanteador rockabilly. Sim, os filmes se assemelham, pois chupam copiosamente a fórmula americana. Também ambos os cantores possuem o rótulo de reis em seus respectivos países. Porém, do contrário de Raul Seixas, Roberto Carlos padece totalmente da atitude rock'n roll produzida pelos balances e voz possante de Elvis, inspirada pelo blues das comunidades negras americanas. Porém, não se pode ignorar Roberto Carlos no Brasil, talvez o principal cantor de nossa história (principal, mas, na minha opinião, não o melhor). Dada a sua fase mais romântica e os arranjos orquestrais de canções como "Emoções", o parâmetro principal do Rei brasileiro é, sem dúvida, com Frank Sinatra. A voz nem se compara. A de Roberto, para mim, chega a ser irritante, mas o glamour de ambos é muito parecido, bem como os temas de algumas canções românticas que cantam. My Way é como Emoções, inclusive em arranjos.

Nem penso em justificar muito tais comparações. Sei que algumas delas já foram feitas por aí a fora e isso aqui pode não ser novidade alguma, mas é um breve momento de reflexão pessoal. Seja como for, já dizia um poeta filósofo qualquer que na arte nada se cria, tudo se copia. ;D

Gil e Caetano: nossos Lennon-McCartney


declaradamente influenciados pelos Beatles. A chamada busca pelo "Som Universal", professada por Caê, era algo entre Luiz Gonzaga e os garotos de Liverpool. Mas não há dúvida de duas coisas: a primeira é que comparações geralmente são bobagens que não dão em nada; a segunda é que se tivéssemos que apontar algo semelhante no Brasil a uma dupla Lennon-McCartney, essa dupla seria Gil-Caetano.

Há inclusive alguma semelhança no papel que a dupla exercia entre si. Assim como os britânicos tinham um que era mais harmonia (Macca) e outro mais letra (Lennon); no Brasil o harmonista era Gil e o letrista Caetano.

Aliás, Gil é talvez o cantor mais completo que já cantou neste país. Instrumentista nato, estudou música, formou-se em acordeon influenciado pelas músicas de Gonzagão e até ensinou Caetano a tocar violão. É detentor de um amplo conhecimento em produção musical e arranjos de canções, ficando pouco (muito pouco) abaixo de um Caetano ou um Chico quando o assunto é letra.

Uma falha nesta comparação sem dúvida consiste dois pontos. O primeiro é que Caetano e Gil não trabalharam tão juntos como letrista e arranjador quanto Lennon e McCartney; o outro ponto é que os brazucas permaneceram (e permanececem) bem mais unidos que os comparativos britânicos. Na falta de uma banda, vale lembrar que foi Gil quem concebeu Os Mutantes que, antes dele, era uma bandinha que tocava covers de baladas americanas.

Na revista Veja de 8 de março de 1967, Gil diz o seguinte: “É como se fossemos dois pólos opostos de uma mesma carga elétrica. E a mensagem de Caetano está em um nível mais ligado ao consumo que a minha (...) Eu uso a música e letra como um dado musical. Caetano usa esses elementos como um dado poético”(pp.62-63). Essa "divisão de trabalhos" lembra alguma coisa em termos de dupla musical?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Raul Seixas-Eu não quero dizer nada


Apesar de canções como "Não Quero Mais Andar Na Contramão" e "Canceriano Sem Lar", eu acredito mesmo que essa é a canção do Raulzito que mais trata sobre seus momentos usando drogas. Há nessa música um clima de adolescentes reunidos para, em grupo, usar entorpecentes. O fato de não conseguir dizer as coisas, de achar o colega ao lado sempre muito legal, de ver as coisas de maneira detida, fala muito sobre uma juventude travada e sem saber de nada.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Os 10 discos mais vendidos no Brasil na história


Não, amantes da MPB, nada de Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gil. Não, amantes do rock, nada de Legião, Engenheiros ou Titãs. Bossa-nova, carro chefe da chamada moderna música brasileira, nem pensar. Nada de Paulinho da Viola no samba, nem Luiz Gonzaga no baião. É só disco pé de chinelo mesmo! Difícil manter a compostura, mas vá lá... os 10 discos mais vendidos no Brasil.


10º. Terra Samba ao vivo e a cores (Terra Samba, 1998) – 2.450.411
9º. Mamonas Assassinas (1995) – 2.468.830
8º. Xou da Xuxa (Xuxa, 1986) – 2.689.000
7º. Um sonhador (Leandro e Leonardo, 1998) – 2.732.735
6º. Xegundo Xou da Xuxa (Xuxa, 1987) – 2.754.000
5º. Xou da Xuxa 4 (Xuxa, 1989) – 2.920.000
4º. Só Pra Contrariar (1997) – 2.984.384
3º. Leandro e Leonardo (1990) – 3.145.814
2º. Xou da Xuxa 3 (Xuxa, 1988) – 3.216.000
1º. Músicas para louvar o Senhor (Padre Marcelo Rossi, 1998) – 3.228.468

Raul: o grande trunfo do xadrez


Sou amante e fã das canções do sábio Raulzito. Sou capaz de dizer que gosto de todas as músicas, ainda que estivesse mentindo para mim mesmo. Seja como for, se tem alguma canção do Maluco Beleza que eu não goste, jamais irei assumir.

Porém hoje, mais de 20 anos depois que me tornei, ainda criança, fã incondicional da máxima "Toca raul", quando escuto suas canções o que toca o meu coração é uma outra toada.

Quando moleque, passava meus dias, minhas horas e meus minutos lendo livros sobre Raul Seixas; interpretando e reinterpretando suas canções. Não abri todos os baús nem desvendei todos os enigmas e ainda me impressiono nos momentos em que sem querer acabo descobrindo um sentido que jamais havia pensado. Seja como for, já não me debruço na tentativa de compreensões de faixas difíceis de analisar por fazerem parte de mim mesmo.

O fato é que se Raul Seixas antes era atitude, agressão, iniciativa, confronto com algumas ordens que ele próprio rompeu mas que ainda servia às minhas pretenções, hoje Raulzito para mim é pura melancolia. Eu seria capaz de chorar ouvindo Raul. Não porque ele tenha canções tristes, mas porque cada álbum me lembra exatamente isso: um momento da vida em que ele era uma das minhas maiores preocupações. Detalhe, meu sonho era montar um fã-clube do Maluco.

Ou seja, Seixas me lembra uma época em que tudo era mais simples. Pode ser nostalgia, saudade da infância ou simplesmente constatação da dureza da vida adulta e os reais problemas que a vida real possui. Quando ouço Novo Aeon vejo a mim mesmo guri, empolgado, vivendo cada faixa em cada dia que se passava. Por isso Raul é ainda mais emocionante para mim nos dias de hoje. Toca raul.

Eu nunca cometo pequenos erros; Enquanto eu posso causar terremoto; e das tempestades já não tenho medo, acordo mais cedo; um moleque maravilhoso

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Cadê o Rock and Roll?




.....Como eu dizia em uma postagem abaixo...

Saudade da Terra e de Gonzagão


.....Tem coisas que não há como se explicar. Estava eu morando lá na Espanha, comprei um violão velho e surrado numa loja de usados para continuar tocando "o meu roquezinho antigo que não tem perigo de assustar ninguém". Nada de novo no front.
.....Eis que nós, brasileiros, resolvemos organizar, em junho, uma festa junina. Organizamos, foi fantástica e um fato novo se procedeu.
.....Era o ano 2000 em ponto. Bira, um baiano, teve que ir embora mais cedo e deixou comigo uma caixa de CDs do Luiz Gonzaga. Eu, na minha inocência, resolvi escutar alguma coisa. Foi o fim!!! O Rei do Baião penetrou no oceano mais profundo do meu ser e suas canções de êxodo e saudade da terra natal me arrebataram e foram a própria concretização do que era o Brasil, para mim. Hoje nem sei em que lugar o Gonzagão está na minha vida, se é um locus musical, um estilo de vida ou a trilha sonora de alguns momentos magníficos. Sei que quando ouço aquela sanfona tocar, eu enlouqueço, não consigo ficar parado.
.....Vale lembrar, depois de Gonzaga comecei a me aprofundar em percussão e hoje, além do roquezinho antigo e da (para mim) difícil MPB, tem sempre o momento do pandeiro, da zabumba e do triângulo que, na falta de explicação melhor, pode resumir todo um Brasil.

Preguiça de Conhecer Coisa Nova


.....Com o passar do tempo algo me assusta: cada vez menos procuro novas músicas. Não sei dizer se é preguiça, se o acervo que eu tenho me satisfaz, se é velhice ou se o que eu gosto é bom e o novo é ruim. Posso dar várias explicações.
.....Na entrevista que o Chico Buarque dá à Caros Amigos (dez, 1998), ele diz: "não ouço mais música popular como ouvia quando tinha vinte anos". Pois bem, eu ainda gosto muito de ouvir as canções que sempre gostei, mas dispor-me ao novo requer um outro posicionamento do meu corpo, do meu espírito e do meu ouvido.
.....Quando ouço algo novo, por exemplo nessa onda Emo, me sinto velho ao pensar "que merda, bom era no meu tempo", mas lembro que meus familiares mais velhos diziam a mesma coisa. Com o tempo, fui agregando "coisas das antigas" ao meu repertório, como Mutantes e a própria MPB. Mas hoje tenho pouca paciência para novos rocks ou que seja os filhos dos filhos da velha guarda da música brasileira (entenda-se Maria Rita, Caetano Filhos, Gilberto Gil filhos, Pepeu Gomes Filhos e etc), cópias das farsas dos originais (mais uma vez uma visão velha do mundo da nova música).
.....Tenho sorte: um irmão 15 anos mais novo que me apresenta novidades. O problema é que ele gosta demais das velharias que eu gostava (Raul, Beatles, Tim Maia, etc) o que reforça meu ponto de vista de gente velha e preguiçosa que a onda de hoje é fraca. Ah! Tenho um irmão mais velho que me apresenta tudo quando é Indie. Quando ouvi fiquei feliz comigo mesmo: legal, coisa nova! Mas pesquisando, a maioria dos grupos é dos 80 ou 90.
.....Ou seja, deixa como tá, vou continuar com a minha preguiça e velhice que, como consolo, serve dizer que é a mesma do Chico Buarque.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Frases Musicais da Semana


Duas frases me chamaram a atanção essa semana, uma delas, claro, era sobre o carnaval, a outra não.

"A Beija-Flor não sabe brincar", essa foi do Ivan Araújo, dizendo que a dita escola de samba sempre desfila para ganhar e tira um pouco a graça da competição. Diga-se de passagem, a péssima nota que a beija-Flor recebeu do público é uma rejeição à sua aproximação com a Rede Globo, que já tá ficando, também, uma brincadeira sem graça.

"Tom Zé é um único e verdadeiro Punk brasileiro". Sobre essa frase só posso comentar o segunte: concordo, é a mais perfeita síntese desse artista musical.

segunda-feira, 7 de março de 2011

O Carnaval e a Carnavalização


Ao longo da história, podemos averiguar algumas inversões sociais. Um exemplo tradicional é aquele em que, em certas épocas do ano (geralmente próximo ao final do ano) os patrões durante um dia serviam a seus empregados como servos. Na Europa ou na América essa prática era verificada. No Canadá houve resquícios até inícios do século XX de tal tradição. Os Bahktinianos davam a essas inversões sociais o nome de carnavalização e apontavam a sua importância para o próprio mantenimento do status quo e na acomodação das indignações das classes subalternas.
Bem, não é espaço para aprofundamento e tampouco é meu interesse debater esse assunto com qualidade (agora). O meu assunto aqui é o carnaval em si.
Estou nesse momento assistindo aos desfiles das escolas de samba de 2011 e posso perceber diversos elementos dessa inversão, pretendendo apontar alguns poucos, sem qualquer presunção acadêmica, claro. Não tenho conhecimento claro do termo carnavalização e vou tratá-lo de maneira vulgarizada, pedindo perdão antemão.
Bem, a primeira inversão social apontada pelo carnaval brasileiro é marcada pela esmagadora presença de negros como protagonistas da organização desta festa, também chamada por aqui como o maior espetáculo da Terra.
Deste primeiro destaque, derivam diversos outros fatores. Por exemplo, as reverências durante o carnaval carioca aos orixás africanos. Ainda o fato de alas e fantasias na qual qualquer pessoa de fora das comunidades do samba, majoritariamente composta por negros, serem dedicadas exclusivamente ou parcialmente aos membros das comunidades.
Não é qualquer pessoa que utiliza a fantasia das baianas, nem é qualquer um que simplesmente pagando vai por um paletó de linho e se misturar à ala da velha guarda. Não basta pedir para entrar na bateria que lhe darão um tamborim para desfilar. Em poucas palavras, é o momento em que o branco ou o rico pede licença para desfilar.
Em Pernambuco, o carnaval é o momento das grandes nações do maracatu, na Bahia, embalada pelos trios elétricos, ainda assim as comunidades e as irmandades, que mostram sua força durante todo o ano, também assumem o protagonismo, considerando de qualquer forma que são poucos os artistas baianos que não são parte de alguma Casa.
Todas as câmeras se voltam para a arte popular, que tem espaço, claro, para a participação de artistas de diversos ramos, mas sempre com a supervisão da comunidade, os maiores críticos do que é realizado nas GRES.
Vai demorar ainda para que a “garota globeleza” seja uma branca. Quando for decidido, rolará certamente muita polêmica. Não há mais muito o que dizer. É a carnavalização. É a inversão. Câmeras e holofotes se voltam para as comunidades pobres mostrando algo diferente de pobreza e miséria, violência e relação com drogas. É o que rotineiramente é tratado como lixo tendo o seu momento de luxo, mas isso pouco é relevante durante as transmissões televisivas.