Após vivenciar e refletir a música, resolvi usar um espaço no qual poderia expor algumas idéias sem o perigo de perdê-las e ainda colocá-las em discussão para os que por ventura se interessarem em passar os olhos por aqui. Mesmo tendo a música como pesquisa acadêmica e ainda sendo um prático nas horas vagas em que toco percussão, não me coloco na obrigação de fazer mais que debater descompromissadamente assuntos referentes, seja como fã ou mais detidamente. Felipe Araújo
quarta-feira, 9 de março de 2011
Frases Musicais da Semana
Duas frases me chamaram a atanção essa semana, uma delas, claro, era sobre o carnaval, a outra não.
"A Beija-Flor não sabe brincar", essa foi do Ivan Araújo, dizendo que a dita escola de samba sempre desfila para ganhar e tira um pouco a graça da competição. Diga-se de passagem, a péssima nota que a beija-Flor recebeu do público é uma rejeição à sua aproximação com a Rede Globo, que já tá ficando, também, uma brincadeira sem graça.
"Tom Zé é um único e verdadeiro Punk brasileiro". Sobre essa frase só posso comentar o segunte: concordo, é a mais perfeita síntese desse artista musical.
segunda-feira, 7 de março de 2011
O Carnaval e a Carnavalização
Ao longo da história, podemos averiguar algumas inversões sociais. Um exemplo tradicional é aquele em que, em certas épocas do ano (geralmente próximo ao final do ano) os patrões durante um dia serviam a seus empregados como servos. Na Europa ou na América essa prática era verificada. No Canadá houve resquícios até inícios do século XX de tal tradição. Os Bahktinianos davam a essas inversões sociais o nome de carnavalização e apontavam a sua importância para o próprio mantenimento do status quo e na acomodação das indignações das classes subalternas.
Bem, não é espaço para aprofundamento e tampouco é meu interesse debater esse assunto com qualidade (agora). O meu assunto aqui é o carnaval em si.
Estou nesse momento assistindo aos desfiles das escolas de samba de 2011 e posso perceber diversos elementos dessa inversão, pretendendo apontar alguns poucos, sem qualquer presunção acadêmica, claro. Não tenho conhecimento claro do termo carnavalização e vou tratá-lo de maneira vulgarizada, pedindo perdão antemão.
Bem, a primeira inversão social apontada pelo carnaval brasileiro é marcada pela esmagadora presença de negros como protagonistas da organização desta festa, também chamada por aqui como o maior espetáculo da Terra.
Deste primeiro destaque, derivam diversos outros fatores. Por exemplo, as reverências durante o carnaval carioca aos orixás africanos. Ainda o fato de alas e fantasias na qual qualquer pessoa de fora das comunidades do samba, majoritariamente composta por negros, serem dedicadas exclusivamente ou parcialmente aos membros das comunidades.
Não é qualquer pessoa que utiliza a fantasia das baianas, nem é qualquer um que simplesmente pagando vai por um paletó de linho e se misturar à ala da velha guarda. Não basta pedir para entrar na bateria que lhe darão um tamborim para desfilar. Em poucas palavras, é o momento em que o branco ou o rico pede licença para desfilar.
Em Pernambuco, o carnaval é o momento das grandes nações do maracatu, na Bahia, embalada pelos trios elétricos, ainda assim as comunidades e as irmandades, que mostram sua força durante todo o ano, também assumem o protagonismo, considerando de qualquer forma que são poucos os artistas baianos que não são parte de alguma Casa.
Todas as câmeras se voltam para a arte popular, que tem espaço, claro, para a participação de artistas de diversos ramos, mas sempre com a supervisão da comunidade, os maiores críticos do que é realizado nas GRES.
Vai demorar ainda para que a “garota globeleza” seja uma branca. Quando for decidido, rolará certamente muita polêmica. Não há mais muito o que dizer. É a carnavalização. É a inversão. Câmeras e holofotes se voltam para as comunidades pobres mostrando algo diferente de pobreza e miséria, violência e relação com drogas. É o que rotineiramente é tratado como lixo tendo o seu momento de luxo, mas isso pouco é relevante durante as transmissões televisivas.
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