quarta-feira, 17 de junho de 2009

Os vinte discos mais vendidos de 2008


A lista dos vinte discos mais vendidos no Brasil em 2008 demonstra o quanto o gosto do brasileiro vai de mal a pior, sujeito às mais tenebrosas chuvas e tempestades. Porém, algo que deve continuar sendo louvado: prefiro que o brasileiro coma lixo feito em casa a que o coma o lixo mal passado do vizinho porque este aparenta ter mais luxo. Ou seja, prefiro que nós gastemos mal o nosso dinheiro com produto nacional do que com porcarias americanóides, por exemplo.
Digo isto porque provavelmente somos o segundo país que mais consome música produzida em casa, perdendo apenas para os estadounidenses, campeões absolutos e que pouco sabem sobre o que é produzido fora de suas fronteiras. Espero que continuemos assim.
Claro que na minha lista ideal de discos mais vendidos estariam CDs completamente diferentes dos que seguem abaixo, sertaneja seria proibida e o Padre Fábio de Mello estaria restrito ao altar de sua igreja. Também em minha lista ideal só teríamos músicas nacionais, com as internacionais de boa qualidade a partir da trigésima colocação.
Outra opção, no plano ideal, seria tirar essa lixarada de Ivetes, sertanojos e Padres, ter somente músicas internacionais de boa qualidade. Mas disto vem uma triste constatação. Um provérbio espanhol diz "aún que la mona se vista de seda, mona se queda", ou seja, uma meretriz bem vestida ainda é uma meretriz.
Digo isto porque as pessoas de mal gosto, se não tivéssemos uma grande produção fonográfica nacional, consomiriam o que de pior fosse produzido no exterior. O pior lixo da pior lata. Então, que desperdicem o seu mal gosto com produtos nacionais mesmo. Antes a sertanojo de que a cauntry americana; antes a Ivete do que a Britney Spears; Antes o Padredo do que o Ricky Martin.
Mas vamos lá, na minha opinião o que tem de bom nesta lista é o Michael Jackson, Thriller, e a Amy Winehouse. Em um segundo pelotão, Roberto Carlos e Caetano cantando Tom Jobim com Ana Carolina no grupo de acesso; e o samba enredo por ser o carnaval a nossa maior tradição. O resto é de uma tristeza bizonha. Mas fazer o quê? Lamentar mesmo e ter esperança de um dia tudo isto melhorar um pouco.

1. Padre Fábio de Mello – “Vida”
2. Padre Marcelo Rossi – “Paz Sim,Violência Não” (Volume 1)
3. Victor & Leo - “Borboletas”
4. Victor & Leo Ao Vivo – “Em Uberlândia”
5. Ivete Sangalo – “Multishow Ao Vivo No Maracanã”
6. Padre Marcelo Rossi – “Paz Sim,Violência Não” (Volume 2)
7. Zezé Di Camargo & Luciano – “Zezé Di Camargo & Luciano (2008)”
8. Roberto Carlos – “Roberto Carlos e Caetano Veloso e A Música de Tom Jobim”
9. Ana Carolina – “Multishow Ao Vivo ‘Dois Quartos’”
10. Leonardo – “Coração Bandido”
11. Amy Winehouse – “Back To Black”
12. Ivete Sangalo – “Perfil”
13. Vários - “A Favorita Sertanejo”
14. Vários – “High School Musical 3 (Regular)”
15. Rihanna – “Good Girl Gone Bad”
16. Diversos – “O Melhor Do Pantanal”
17. Michael Jackson – “Thriller” (Edição de Aniversário de 2005)
18. Diversos – “Sambas De Enredo 2009”
19. Daniel – “Difícil Não Falar De Amor”
20. Sandy & Junior – “Acústico

sábado, 13 de junho de 2009

Michael Jackson e a Luta Contra o Destino


Ver o bom e velho (no melhor sentido) Michel Jackson é algo que possui um lado tremendamente triste e assustador. Não mencionando as polêmicas envolvendo o Rei do Pop, as quais tenho as minhas dúvidas –porém jamais deixaria um filho meu dormir na casa dele, óbvio. Quando me refiro ao bizarro de Michael, trato apenas e tão somente (ao menos neste breve texto) de sua aparência.
Sim. O que tem de assustador está intimamente relacionado ao que tem de triste, e posso falar de ambos os aspectos como se fossem um só. Mas que aspectos são esses?
Antes de tudo, vale lembrar que a vida de Michael Jackson não foi fácil. Molestado, explorado e abusado de diversas formas pelo próprio pai, virou astro através de muito trabalho e podemos dizer que ele jamais teve infância. Atingiu em plena solidão os píncaros da glória.
Se esta trajetória teve ou não influencias diretas sobre os anseios pessoais de Jackson, podemos supor, porém jamais afirmar verdadeiramente, mas por si só já é uma trilha bastante triste e bizarra. Mas já me enrolo muito.
Ao vê-lo hoje, em pleno século XXI, passados seus melhores momentos de maneira irremediável e irrecuperável, nos deparamos com uma criatura que buscou ser, enquanto pôde, tudo o que de fato não era.
Talentoso e único, dono de trilhas musicais das décadas de 1970 e 1980 que jamais serão esquecidas –além de algumas baladas até os dias de hoje –a cada aparição do irmão mais novo dos Jacksons Five ele estava mais transformado. A luta mais visível era contra a sua cor de nascença, a negra.
Nos dias atuais podemos perceber que tal batalha empreendida por Michael era bem mais árdua. Combatia seu cabelo, seus lábio, seu corpo, seu gênero e, a cada momento, a sua idade. Um ser insatisfeito com o que sempre foi, jamais conseguiu esconder –se é que algum dia tentou –seus traços femininos e pueris (este último estava mais para um princípio) aparecendo em hits sem jamais beijar uma mulher e inclusive assustando-as para além do Triller.
Em entrevista concedida junto a sua esposa, a filhinha problemática de Elvis Presley, quando foi questionado se fazia sexo com ela, não soube responder, ao que a conjugue secamente repetiu três vezes diante da mudez do marido: fazemos, fazemos e fazemos.
Em nada disto está o mais bizarro senão em um conjunto deste todo. Hoje ele aparenta ser um homem que luta contra o gênero masculino pelo qual nasceu, luta contra o formato de seu rosto, contra o cabelo crespo, contra os lábios grossos, contra a idade e contra a cor de sua pele. Eternamente insatisfeito com o resultado, é também infinitamente triste e melancólico.
Apesar de ter mudado tudo em si, fisicamente, o que jamais mudará será o seu talento. Quase perto da falência algumas vezes, reergueu-se por saber fazer muito bem feita a sua arte, sua dança e sua música.
Agora um câncer parece atingi-lo, uma nova batalha contra um inimigo natural se faz repetidamente necessária. Batalha que ele, espero, vença, mas sabendo que a guerra maior desta luta ele não pode vencer.

Felipe Araújo
Jornalista, Historiador, Professor e Pesquisador

Clips do Passado na Vida Presente


Com as novas tecnologias –por vezes nem tão novas assim– as possibilidades aumentam a cada ano. Uma destas possibilidades é poder rever na tela do computador inúmeros e tantos clips musicais das décadas de 1970, 80 e 90 que até então eram raridades perdidas no tempo.
Rever tais produções não são apenas estar diante de documentos históricos sobre a produção televisiva e fonográfica de uma época, senão deparar-se consigo mesmo enquanto ser humano fruto de uma época ou filhos recentes de um determinado período.
Mas cuidado, pode haver um choque. Sabendo que estes clips foram feitos majoritariamente nos Estados Unidos, eles dialogavam com uma cultura diferente da brasileira, que consumia os mesmos produtos na mesma época, porém restringindo-se este consumo principalmente à esfera da música, tendo pouca ou nenhuma chance de ver os artistas em movimento pelas telinhas da tv.
Isto, claro, em função de programas como a MTV serem apenas recentemente pertencentes às esferas públicas e de mais fácil acesso. Nos 80s brasileiro, quem podia ver clips era privilegiado, estando a maioria dos fãs de música restritos às revistas e acima de tudo ao acesso às rádios.
Ver estes clips pode gerar um muitos fãs do período um estranhamento. Claro que isto não diz respeito ao fã incondicional de um determinado grupo, que buscou se informar e “sabia tudo” de determinada produção, mas para apenas consumia por rádio ou revistas Nina Heigen, Cindy Lauper e toda sorte de pastiche kitsch daquele período, vê-los em movimento pode ser algo novo.
Em movimento, com a estética visual em ação, as roupas, as cores, a história contada nos clips, a androginia, masculinidade ou feminilidade –a atitude geral, enfim –é que podemos ver finalmente com quem procurava dialogar tal grupo ou cantor, ou ao menos que tipo de representação procurava. E pasme, podia não ser com você que amava aquele determinado hit.
Claro que agora isto não importa. O que passou, passou, não é mesmo? Então faça este exercício de procurar suas canções preferidas do passado acompanhadas de seus clips e perceba que você será tocado de diversas maneiras, algumas as quais você nem imagina.

Felipe Araújo
Jornalista, Historiador, Professor e Pesquisador