segunda-feira, 7 de março de 2011

O Carnaval e a Carnavalização


Ao longo da história, podemos averiguar algumas inversões sociais. Um exemplo tradicional é aquele em que, em certas épocas do ano (geralmente próximo ao final do ano) os patrões durante um dia serviam a seus empregados como servos. Na Europa ou na América essa prática era verificada. No Canadá houve resquícios até inícios do século XX de tal tradição. Os Bahktinianos davam a essas inversões sociais o nome de carnavalização e apontavam a sua importância para o próprio mantenimento do status quo e na acomodação das indignações das classes subalternas.
Bem, não é espaço para aprofundamento e tampouco é meu interesse debater esse assunto com qualidade (agora). O meu assunto aqui é o carnaval em si.
Estou nesse momento assistindo aos desfiles das escolas de samba de 2011 e posso perceber diversos elementos dessa inversão, pretendendo apontar alguns poucos, sem qualquer presunção acadêmica, claro. Não tenho conhecimento claro do termo carnavalização e vou tratá-lo de maneira vulgarizada, pedindo perdão antemão.
Bem, a primeira inversão social apontada pelo carnaval brasileiro é marcada pela esmagadora presença de negros como protagonistas da organização desta festa, também chamada por aqui como o maior espetáculo da Terra.
Deste primeiro destaque, derivam diversos outros fatores. Por exemplo, as reverências durante o carnaval carioca aos orixás africanos. Ainda o fato de alas e fantasias na qual qualquer pessoa de fora das comunidades do samba, majoritariamente composta por negros, serem dedicadas exclusivamente ou parcialmente aos membros das comunidades.
Não é qualquer pessoa que utiliza a fantasia das baianas, nem é qualquer um que simplesmente pagando vai por um paletó de linho e se misturar à ala da velha guarda. Não basta pedir para entrar na bateria que lhe darão um tamborim para desfilar. Em poucas palavras, é o momento em que o branco ou o rico pede licença para desfilar.
Em Pernambuco, o carnaval é o momento das grandes nações do maracatu, na Bahia, embalada pelos trios elétricos, ainda assim as comunidades e as irmandades, que mostram sua força durante todo o ano, também assumem o protagonismo, considerando de qualquer forma que são poucos os artistas baianos que não são parte de alguma Casa.
Todas as câmeras se voltam para a arte popular, que tem espaço, claro, para a participação de artistas de diversos ramos, mas sempre com a supervisão da comunidade, os maiores críticos do que é realizado nas GRES.
Vai demorar ainda para que a “garota globeleza” seja uma branca. Quando for decidido, rolará certamente muita polêmica. Não há mais muito o que dizer. É a carnavalização. É a inversão. Câmeras e holofotes se voltam para as comunidades pobres mostrando algo diferente de pobreza e miséria, violência e relação com drogas. É o que rotineiramente é tratado como lixo tendo o seu momento de luxo, mas isso pouco é relevante durante as transmissões televisivas.

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