sábado, 13 de junho de 2009

Michael Jackson e a Luta Contra o Destino


Ver o bom e velho (no melhor sentido) Michel Jackson é algo que possui um lado tremendamente triste e assustador. Não mencionando as polêmicas envolvendo o Rei do Pop, as quais tenho as minhas dúvidas –porém jamais deixaria um filho meu dormir na casa dele, óbvio. Quando me refiro ao bizarro de Michael, trato apenas e tão somente (ao menos neste breve texto) de sua aparência.
Sim. O que tem de assustador está intimamente relacionado ao que tem de triste, e posso falar de ambos os aspectos como se fossem um só. Mas que aspectos são esses?
Antes de tudo, vale lembrar que a vida de Michael Jackson não foi fácil. Molestado, explorado e abusado de diversas formas pelo próprio pai, virou astro através de muito trabalho e podemos dizer que ele jamais teve infância. Atingiu em plena solidão os píncaros da glória.
Se esta trajetória teve ou não influencias diretas sobre os anseios pessoais de Jackson, podemos supor, porém jamais afirmar verdadeiramente, mas por si só já é uma trilha bastante triste e bizarra. Mas já me enrolo muito.
Ao vê-lo hoje, em pleno século XXI, passados seus melhores momentos de maneira irremediável e irrecuperável, nos deparamos com uma criatura que buscou ser, enquanto pôde, tudo o que de fato não era.
Talentoso e único, dono de trilhas musicais das décadas de 1970 e 1980 que jamais serão esquecidas –além de algumas baladas até os dias de hoje –a cada aparição do irmão mais novo dos Jacksons Five ele estava mais transformado. A luta mais visível era contra a sua cor de nascença, a negra.
Nos dias atuais podemos perceber que tal batalha empreendida por Michael era bem mais árdua. Combatia seu cabelo, seus lábio, seu corpo, seu gênero e, a cada momento, a sua idade. Um ser insatisfeito com o que sempre foi, jamais conseguiu esconder –se é que algum dia tentou –seus traços femininos e pueris (este último estava mais para um princípio) aparecendo em hits sem jamais beijar uma mulher e inclusive assustando-as para além do Triller.
Em entrevista concedida junto a sua esposa, a filhinha problemática de Elvis Presley, quando foi questionado se fazia sexo com ela, não soube responder, ao que a conjugue secamente repetiu três vezes diante da mudez do marido: fazemos, fazemos e fazemos.
Em nada disto está o mais bizarro senão em um conjunto deste todo. Hoje ele aparenta ser um homem que luta contra o gênero masculino pelo qual nasceu, luta contra o formato de seu rosto, contra o cabelo crespo, contra os lábios grossos, contra a idade e contra a cor de sua pele. Eternamente insatisfeito com o resultado, é também infinitamente triste e melancólico.
Apesar de ter mudado tudo em si, fisicamente, o que jamais mudará será o seu talento. Quase perto da falência algumas vezes, reergueu-se por saber fazer muito bem feita a sua arte, sua dança e sua música.
Agora um câncer parece atingi-lo, uma nova batalha contra um inimigo natural se faz repetidamente necessária. Batalha que ele, espero, vença, mas sabendo que a guerra maior desta luta ele não pode vencer.

Felipe Araújo
Jornalista, Historiador, Professor e Pesquisador

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